
Ontem eu saí cedo pra buscar a calopsita da minha amiga Dani.. ela vai ficar comigo uns tempos porque o macho fugiu e ela está morrendo de tristeza. Só fica piando de uma forma dolorosa e no fundo da gaiola... nem no poleiro quer subir. Enfim, fui buscá-la com a missão de lhe devolver a vontade de viver e, se conseguir retorná-la à alegria, pensarei ainda mais sério na possibilidade de um trabalho voluntário com animais que sofreram algum trauma, que já se recuperaram fisicamente mas que ainda estão sofrendo de tristeza... quem sabe é este o meu caminho?
Coloquei a gaiola sobre o banco do passageiro e, enquanto dirigia vim conversando com ela. Conversando sim, porque por várias vezes ela esperou que eu calasse para me responder com um piado triste de dar dó. Argumentei que nem tudo era dor, que se lembrasse dos dias felizes, do aprendizado... mas, ela só sabia lamentar... Piii tuuuuuuuu..... Piii tuuuuuuuu..... Piii tuuuuuuuu.....
No caminho para casa eu pensei que, embora seja simplesmente divino ser mulher.. (e se houver outras vidas quero sempre voltar mulher..), estamos todas condenadas ao sofrimento do amor... sejamos lá o que formos: escravas, submissas, ou baunilhas...

É, minha amiga, nenhuma de nós passa impune.. não mesmo. Algumas, com um instinto maior de sobrevivência, ao verem ceifadas suas relações logo engatam numa outra... talvez numa tentativa de fugir da dor. Não é o meu caso.. preciso de um tempo pra digerir.. mas, acho que fazem até muito bem as que procuram logo outra pessoa... já dizia minha avó: “Um amor só se cura com outro”... ou, “Rei morto, Rei posto”. Não sei e nem vou julgar ninguém, cada um sabe de si e ninguém tem o direito de censurar.
O fato é que, diferenças à parte, tanto faz se somos Paulas, Renatas, Valérias, Marias, ou até Ninas (nome da calopsita abandonada pelo macho), tanto faz também se somos escravas, submissas, cadelas, putas, meninas, brinquedos, masoquistas, baunilhas apimentadas ou sem pimenta... e até calopsitas...porque não? Mais cedo ou mais tarde estamos todas condenadas à dor. Tanto faz o estilo de vida, status sócio-econômico cultural, tanto faz a idade, ou o tipo físico, vivemos todas no corredor da morte.
Não, não sou dramática e muito menos pessimista, eu não espero o pior. Apenas parei pra pensar quanto dói lembrar que a qualquer momento tudo pode acabar. E não venha me dizer: "_Ah.. entao não pense nisso agora!" Te garanto que prefiro a lucidez, por mais que doa, do que viver no mundo da lua.
E me parece que quanto maior for a entrega e a doação de si mesma, maior será o sofrimento. Não mais estarmos ajoelhadas diante do Dono, não termos mais sua mão a segurar a guia da nossa coleira, nem sua vontade sobre a nossa. E não encontrarmos nossa imagem no espelho, porque no espelho tudo que veremos será a sua face amada, estas são dores dilacerantes.
Mas, por favor, não se atenham ao sofrimento.. Pensem nas maravilhas do presente. E, se no corredor da morte o que nos acomete é uma dor infinda, o tempo de servidão, por mais breve que seja, nos permite viver o nirvana que será sempre imensurável e compensará todas as dores presentes e futuras.
