Certamente você já leu o texto abaixo, que escrevi sobre "Irmãs de Coleira", para a comunidade "Confraria de Apoio as Cadelas - CAC". No entanto, penso que não me fiz clara a respeito do que sinto. Como toda mulher, será sempre mais fácil para mim a exclusividade na relação.
A exclusividade é a certeza de estar servindo a contento? É a garantia da felicidade do DONO por sua propriedade? Sinceramente, não acho. No mundo baunilha, ou no SM, ter mais de uma mulher é algo que povoa e seduz o imaginário masculino. Tanto pelo desejo de poder, quanto por estar gravado no DNA dos machos que é sua obrigação crescer e multiplicar a espécie, enquanto é obrigação das fêmeas ficar em casa cuidando da família.
Num primeiro momento, meu estômago vai revirar, meu coração vai disparar de medo, provavelmente chorarei muito. No entanto, de cabeça fria, pensarei: quando escolhi estar do lado oposto de quem empunha o chicote, quando descobri que me realizaria obedecendo, quando me deslumbrei com a submissão... neste momento já sabia o preço que teria que pagar por todas as delícias da minha escolha. E, se no baunilha já não fica bem se esquivar daquilo que dá prazer ao outro, no SM este comportamento é totalmente inadequado. Daí, levantar a voz, ou uma bandeira, contra a famigerada irmã de coleira, nem pensar.
Vocês me conhecem, sabem que mostro minha face aqui no blog e nos sites de relacionamento SM que frequento. Sabem que faço questão de falar sobre a minha entrega e servidão nos meus mundos familiar, profissional e social. Portanto, serei igualmente sincera ao responder a pergunta:
_Amar, vc gostaria de ter uma irmã de coleira?
_Claro que não, está louca??? _eu diria.
Mas... responderia isso de cabeça baixa, totalmente envergonhada, com voz quase inaudível, pq contrariar um desejo do DONO, na minha opinião, é algo inadmissível para uma escrava, ou submissa. Mesmo assim, tenho que admitir minhas fraquezas.
Não há nenhum demérito em almejar a exclusividade. Vamos trabalhar para te-la. Exclusividade é algo que se conquista, resultado de um trabalho árduo minuto a minuto. O que não podemos, não devemos, é manifestar nosso querer, seja ele qual for. Se escolhemos a submissão, a servidão, temos de ter a coerência de nos comportarmos como tal. Lá dentro do peito podem existir os ciúmes, a insegurança, o medo... já que somos humanos. O que não fica bem é querer apenas as benesses de uma escolha e ignorar o preço que há de se pagar para te-las.
Irmãs de coleira - A arte da convivência
Uma submissa está entrando em uma senzala
onde já existe outra sub há algum tempo.
O que deverá acontecer daqui pra frente?Dez anos de BDSM e posso me considerar uma escrava afortunada. Tive relações intensas, que me ensinaram muito e contribuíram tanto para meu desenvolvimento como submissa, quanto para meu crescimento pessoal. Terminaram porque tudo tem começo, meio e fim, nada é eterno. Mas foram calcadas no respeito, na confiança e na ética. A prova disso são os laços de afeto que prosseguiram.
Seria hipócrita se dissesse aqui que não gostei de ser presenteada com exclusividade em algumas dessas relações. Gostei, claro, como toda submissa gosta. Me senti honrada em minha entrega e servidão. Mas, sempre recebi de alma, coração e braços abertos as irmãs de coleira que tive. Foi um privilégio o convívio sereno e delicado durante a relação. Maior privilégio ainda os sentimentos que tiveram continuidade após findarem as relações.
Estou certa que a postura do Dono é de suma importância. Em suas mãos está a responsabilidade pelo clima de harmonia, ou de competitividade. Já presenciei Dominadores que fazem questão de atiçar suas submissas umas contra as outras, a fim de assistir crises de ciúmes entre elas... Mas, quem sou eu para censurar.
No entanto, a responsabilidade não está apenas nas mãos do Dominador. As submissas, tanto a que chega quanto a que já está, têm de ser éticas acima de tudo. É fundamental uma postura de carinho e despojamento entre ambas.
Se uma deve ser aconchegante para que a outra não se sinta invasora ou "fora de lugar". A que chega, por sua vez deve ter além de tudo: tato, delicadeza, respeito para com os sentimentos ali já existentes e desenvolvidos ao longo do tempo da relação.
Boa vontade e o bom senso deverão reinar entre as duas, para que juntas trabalhem em paz, focadas no objetivo comum de ampliar a obediência, a quebra de barreiras, a expansão de limites, a entrega e a submissão ao Dono.
Se a ética não estiver presente, haverá competitividade (coisa feia de pessoas inseguras). Aí, por maior que sejam os cuidados do Dono, os conflitos acontecerão.
A irmã que recebe uma nova deve segurar a língua e não exibir as palavras bonitas que escuta do Dono, os mimos que já recebeu, muito menos descrever o prazer que ele tem ao tortura-la. Evitar expor a relação, cuidar para que a outra não sofra e inveje. Somos seres humanos, não podemos nos esquecer disso em momento algum. Infelizmente, nossos sentimentos muitas vezes ainda são pequenos, como a inveja e o despeito.
Assim também, a nova irmã deve se abster de contar os jogos de sedução em que foi envolvida para ali estar. Já vi submissas que estão chegando fazerem grande alarde sobre os momentos da conquista. Ora, sabemos que tem mais ciúmes quem já está na relação. Erroneamente, tanto quem chega, quanto quem já está, pensa que se o Dono buscou a outra submissa deverá ser por estar se sentindo insatisfeito. Ledo engano... No mundo SM, ou no baunilha, ter mais de uma mulher ao mesmo tempo povoa o imaginário dos homens. Então, já que é assim, para que despertar a insegurança? Qual é o benefício que há em ser feliz sobre a infelicidade da outra?
Será sempre muito útil que uma se coloque no lugar da outra para evitar confrontos. O que não queremos para nós, não devemos dar a ninguém. Também, deixar lá fora as vaidades e o orgulho, os dois são desnecessários numa senzala.
Por fim, com todo este cuidado, com toda esta delicadeza, o presente será um dia ouvir do Dono: Sou um Homem realizado e feliz, tenho escravas que se respeitam, se amam e tudo fazem para o meu prazer.
DEXPEX_{Amar Yasmine}